Remapear as margens: hipsografia do centro
Quando nos anos noventa se prognostica a morte da fotografia por parte de pensadores como Robins, Manovich ou Mitchell, ainda faltava muito tempo para vermos as mudanças nas gramáticas e conceitos, nas formas e nos fundos do meio, mas tudo indicava que haveria um novo paradigma que nos levaria a um exercício colectivo para repensarmos a fotografia. Começa devagar um período sem paralelo, porventura o mais importante da história da fotografia, no qual autores e autoras de todo o mundo iriam reagir perante o academismo estabelecido e, em consequência, reflectir para recomeçar os caminhos da imagem que estavam quase esgotados, para se distanciarem da ideia de captura e acumulação e se aprofundarem no conceito. Reutilizar imagens feitas e refotografar será, desde então, uma constante para resignificar a nossa visão e estada aqui.
No percurso pela antiga Fábrica do Matias criam-se através das diferentes propostas dos e das artistas, trânsitos entre o pessoal e o político, dificultando a distinção entre o que é estritamente um ou exclusivamente o outro. Isto lembra-nos a conhecida palavra de ordem «o pessoal é político», frase que se popularizou a partir do ano 70 depois da publicação do ensaio «The Personal Is Political», de Carol Hanisch, que, igual ao que acontece nesta exposição, procura destacar as conexões entre a experiência pessoal e as grandes estruturas sociais e políticas. Em suma, pelos discursos individuais que remapeiam as margens, chegamos a um discurso global que reequilibra e hipsografa um novo centro.
Carlos Trancoso
Beatriz Chaves
Francesca Faulin
Pedro Malheiro
Maria João Salgado
Francisco Ascensão
Joana Dionísio
Sandra Teixeira
Carlos Trancoso
Sandra Valle
Curadoria: Vítor Nieves
Produção: Instituto de Produção Cultural e Imagem (IPCI).
Beatriz Chaves. (Porto, 1999).
Licenciada em Teorias da Comunicação Audiovisual, na Escola Superior de Media Artes e Design em 2020, realizou também um semestre no âmbito do programa Erasmus, na Krzysztof Kieślowski Film School, em Katowice, Polónia. Recentemente frequentou o Master em Fotografia Artística no IPCI.
Participou em várias exposições na cidade do Porto organizadas pelo colectivo Espaço399.
O seu trabalho desenvolve-se através de vários processos, como vídeo e fotografia, explorando o espectro entre eles. Algo constantemente presente no seu trabalho é a exploração da textura através do íntimo e o sensorial.
Francesca Faulin. (Veneza, Itália, 1985).
Licenciou-se em Sociologia e Comunicação Intercultural na Universitá degli Studi di Milano.
Depois de ter trabalhado e vivido em Berlim durante seis anos mudou-se para Lisboa, onde trabalha como consultora de marketing digital. Completou recentemente o Master em Fotografia Artística no IPCI Lisboa.
O seu trabalho criativo centra-se na fotografia e na escrita, criando narrativas visuais e experimentando processos analógicos. Apresentou os seus trabalhos em Lisboa na Livraria Ferin, Ler Devagar e NaEsquina, auto-publicou um zine e tem apresentado uma maquete do seu último trabalho «Perché ti ricordi sempre».
Pedro Malheiro. (Matosinhos, 1972).
Residente no Porto, onde se licenciou em Gestão de Empresas.
Paralelamente, desenvolveu um interesse pela criação de imagens, tendo iniciado uma prática fotográfica complementada com aulas de pintura e desenho. Em 2015 decidiu começar a estudar Fotografia no IPF (Porto) e em 2019 concluiu o Master em Fotografia Artística no IPCI, também no Porto.
Foi distinguido com uma Menção Honrosa nos Novos Talentos FNAC Fotografia e foi finalista no International Photography Grant na categoria de documental. Recentemente, foi seleccionado por Anthony Luvera na convocatória integrada no ciclo «Encontros do Olhar» a decorrer no IPF Porto.
Apresentou numerosos trabalhos em exposições colectivas. Expôs o seu trabalho «Yvonne» no festival Photoalicante 2020 no âmbito da exposição «Después del documento, fotografia portuguesa para la nueva década».
Actualmente, frequenta o curso Teorias da Arte Moderna e Contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade do Porto enquanto está a desenvolver projectos fotográficos pessoais.
Na sua prática artística, trabalha e experimenta a fotografia nas suas diferentes abordagens, formatos e materiais.
Maria João Salgado. (Braga, 1992).
Estudou fotografia no Instituto Português de Fotografia (IPF) e especializou-se no Instituto de Produção Cultural e Imagem (IPCI) com o Master de Fotografia Artística.
Desde 2015 desenvolve projectos baseados na linguagem documental, principalmente sobre direitos humanos e comunidades oprimidas. Actualmente está centrada num trabalho mais intimista com diferentes abordagens onde questiona histórias pessoais recriando recordações e vivências do passado para transitar melhor no presente.
Francisco Ascensão. (Porto, 1991)
Estudou na Oslo School of Arquitecture (AHO) e é arquitecto pela FAUP (2015), tendo sido distinguido com o prémio Sílvia Viana de Lima. Em 2021, concluiu o Master em Fotografia Artística no IPCI (Porto).
Entre 2012 e 2013, foi director do clube de fotografia AEFAUP e em 2013, foi co-editor da revista «Dédalo». Colaborou com os escritórios de arquitectura Correia Ragazzi (2014), no de Vylder Vinck Taillieu (2014-2016) e colabora, desde 2016, com o arquitecto Nuno Brandão Costa. Desenvolve, em paralelo, projectos de arquitectura da sua autoria. Em 2017 criou com Luca Bosco o projecto fotográfico «Atlante». Nesse âmbito, fotografou para o livro «Porto Brutalista», editado pela Circo de Ideias em 2019.
O seu trabalho fotográfico debruça-se sobre o território, a cidade e a arquitectura, questionando a nossa condição enquanto utilizadores e construtores de uma identidade urbana e social.
Joana Dionísio. (Porto, 1993).
Licenciada em Design de Produto pela ESAD em 2014 e em Tecnologias da Comunicação
Audiovisual pela ESMAD em 2017. Em 2021 concluiu o Master em Fotografia Artística no IPCI. Já expôs o seu trabalho nos Encontros da Imagem, no CPF, no Palácio das Artes, na Bienal de Cerveira, na Galeria Municipal Vieira da Silva, na PB27 Gallery, entre outros. O seu vídeo “Lady perfection” foi nomeado para melhor realizador de filmes de autor no Porto Fashion Film Festival. Recentemente foi finalista no Concurso da Bienal Jovem de Loures e foi selecionada na convocatória integrada no ciclo “Encontros do Olhar” no IPF.
O seu trabalho é caracterizado por uma forte vertente autobiográfica que explora temas como a identidade, o arquivo e a memória, refletindo sobre a forma como o ser humano se relaciona consigo e com o mundo.
Sandra Teixeira. (Guimarães, 1993).
Em 2018 concluiu o mestrado em Comunicação Audiovisual (Fotografia Documental) na ESMAD. Colaborou com o grupo de investigação CCRE (FAUP) onde trabalhou com a Scopio Editions na área da Fotografia de Paisagem e Território.
Continua numa formação constante em cursos como Gabinete de Conservação e Restauro de Documentos Gráficos e Ilustração, Impressão, Publicação (FBAUP). E em 2021 concluiu o Master em Fotografia Artística no IPCI.
Participou em residências artísticas e em exposições individuais e colectivas.
A sua obra é o resultado de um fascínio pela natureza com práticas mais sustentáveis baseadas em pesquisas em suportes e materiais descartáveis e novos métodos de afixação de imagem.
Carlos Trancoso. (Bragança, 1989).
Utiliza o olhar fotográfico numa perspectiva crítica sobre a relação entre o ser humano e a tecnologia. O seu trabalho visa desafiar padrões estabelecidos de interacção e criação de imagens na sociedade contemporânea. Embora utilize principalmente abordagens ficcionais, o seu trabalho inspira-se na linguagem da fotografia documental, criando imagens sem câmara, técnicas mistas e imagens geradas por computador.
Recentemente expôs em festivais como Photoalicante em Espanha, Backlight na Finlândia e na Bienal da Maia em Portugal.
Sandra Valle. (Lisboa, 1977).
Estudou Design Industrial na IADE, e Arquitectura no IST, em Lisboa. Posteriormente fez a pós-graduação em Discursos da Fotografia Contemporânea na FBAUL e o Master em Fotografia Artística no IPCI.
Na sua prática artística a influência da arquitectura é um elemento preponderante, quer no retrato das paisagens urbanas como na criação de modelos que as simulam, numa procura que deambula entre questões como a identidade, o lugar e o não-lugar, a luz e a sombra, o vazio e o tempo.
Francisco Ascensão
Exposição
Inauguração a 27 de maio
Fábrica do Matias, Amarante
Patente até 3 de julho
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